O que acontece quando nos dispomos a investigar nossas escutas? Como experimentamos, performamos, produzimos, inventamos escutas? Quais são as forças que constituem nossas escutas e em que medida temos controle sobre essa experiência? O que ouvimos e o que silenciamos? Como podemos expressar ao outro essa experiência que se dá (não exclusivamente) em nosso próprio corpo? O que emerge desse esforço de compartilhamento? Essas são algumas das questões presentes no projeto Microfonias: invenção e compartilhamento de escuta.
Microfonias é um projeto de natureza prático-teórica que associa pesquisa e criação artística. Por meio de ações relacionais, experimentamos e refletimos sobre questões éticas, poéticas e políticas implicadas na escuta. Temos apoiado nossas ações em metodologias não-convencionais, como a realização de conversas gravadas, a coleta de áudio testemunhos, a troca de correspondências artísticas, a elaboração de relatos afetivos de escuta, a exploração de formatos alternativos de escrita, entre outras. Nossas ações podem ser descritas como práticas experimentais de desestabilização de formas hegemônicas de escuta e de discurso, em direção ao que temos chamado de uma política feminista de escuta.
Quando iniciamos o projeto Microfonias em 2017, nós nos juntamos mais por ressonância do que por identificação, já que nossas práticas artísticas apontam para técnicas, meios, recursos e cenas musicais distintas. O que havia em comum era o desejo de construir um espaço alternativo de pesquisa e criação artística onde pudéssemos partir de nossas próprias experiências. Esse espaço foi se constituindo ao longo dos nossos encontros e foi sendo modulado por uma ética baseada na escuta. Nossa cooperação micropolítica tem celebrado a diferença e a tomado como combustível para sustentar uma força de metamorfose transindividual. Nesse projeto, abrimos novas janelas à medida que colocamos nossas biografias, práticas artísticas e pesquisas individuais em contato.
Microfonias é um projeto desenvolvido pelas artistas e pesquisadoras Lílian Campesato e Valéria Bonafé.
Vídeo produzido em junho de 2020 para o “Audio Testimonies Symposium – CRiSAP”