Nessa primeira conversa, focamos em dois trabalhos musicais feitos em 2015: de perto, de Lílian Campesato, e Trajetórias, de Valéria Bonafé. A conversa nos ajudou a observar que os trabalhos tensionam um regime de escuta habitual e provocam, cada um à sua maneira, o que chamamos de deslocamentos da escuta. Nesses trabalhos a escuta passa necessariamente pelo reconhecimento de um corpo e de uma biografia. Tendo que levar seus ouvidos para um passeio em busca de escutas ou tendo que envolvê-los com um fone de ouvido para trazer a escuta para perto de si, a/o ouvinte é convidada/o a reconhecer seu lugar de escuta, a se perceber agente de uma ação particular. Nesse encontro com as peças – com o outro, com o estranho – ela/ele se espia e escuta a si mesma/o. E é nessa experiência de alteridade, de deslocamento, que uma escuta de si se torna possível.